quarta-feira, 11 de junho de 2008

Administrar é para Administradores? Weyrauch diz que sim...

Postado por Erick Cotta
Por Da Redação www.Administradores.com.br - Publicado em 12/04/04

O Professor José-Carlos Weyrauch nasceu em Porto Alegre e tem uma trajetória acadêmica invejável. Tem graduação em Administração de Empresas e Ciências Contábeis pela UFRGS, e Economia pela PUC-RS.
Já andou pela França e fez uma Especialização na famosa INSEAD, no programa Training Trainers For General Management Programs.Tem Mestrado em Administração pela UFRGS e Doutorado também em Administração pela USP.É professor e coordenador de vários cursos de Pós-graduação, projetos econômicos e técnicos, assessorias e consultorias administrativas diversas, perícias e revisões contábeis.
Com base na sua trajetória profissional e bagagem acadêmica, o Professor Weyrauch é enfático: Administrar é para Administradores.
Administradores - Caro Prof. Weyrauch, o senhor é um árduo defensor da premissa de que “administrar é para administradores”. Quais os principais pontos que embasam o seu posicionamento ?
Prof. Weyrauch - Durante toda a minha infância e parte da juventude fui, fortemente, envolvido pelas contas. Meu pai construiu um grande escritório contábil em Porto Alegre e ainda bem jovem fui trabalhar com ele. Assim, fui mergulhando nessa atividade até que um novo emprego, desta vez na Delegacia Regional do Imposto de Renda de Porto Alegre, reforçou a necessidade de me tornar um contador. Não pensei duas vezes, fiz o Curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pois para trabalhar com contabilidade é necessário ser contador.
Mais tarde, montei junto com outros colegas um escritório de planejamento e passamos a atuar nos setores de pesca, calçadista e têxtil. A visão macro que as novas atividades estavam me impondo, despertou a necessidade de um Curso de Ciências Econômicas. Onde eu poderia buscar, com propriedade, conhecimentos de economia, para trabalhar como economista, senão numa boa graduação ?
Finalmente, quando algumas empresas desses setores necessitaram, individualmente, resolver alguns problemas de gestão senti a necessidade de buscar conhecimentos na área micro. Foi o que me levou de volta à UFRGS para fazer o meu Curso de Administração e poder oferecer consultoria administrativa a esses clientes.
Estas três graduações são muito próximas entre si e muitas vezes pertencem a uma mesma unidade de ensino, possuindo disciplinas básicas em comum. Ainda assim, formam profissionais distintos com profissões regulamentadas e fiscalizadas cada uma por um Conselho especifico. O que dizer, então, de profissionais de áreas completamente diferentes que se arvoram administradores desdenhando a necessária formação?
Administradores - O Sr. não acredita que um profissional de outras áreas, um engenheiro ou advogado, por exemplo, seja capaz de desempenhar os mesmos papéis de um administrador dentro de uma organização?
Prof. Weyrauch - Já fiz e continuo fazendo muita consultoria em administração. Quase sempre, o grupo que formamos para executar essas tarefas inclui engenheiros, advogados e outros profissionais. Cada um trabalha na sua área, o que não impede de eu já ter sugerido, com sucesso, soluções de problemas da área de engenharia e engenheiros terem ótimos insights em questões de administração. Todos nós conhecemos um pouco da área do outro mas nem por isso achamos que podemos substitui-lo.
Os cursos de administração costumam oferecer as suas disciplinas, mais ou menos, como segue:
Formação Básica e Instrumental
- Economia
- Direito
- Matemática
- Estatística
- Contabilidade
- Filosofia
- Psicologia
- Sociologia
- Informática
Total: 720 h/a (24%)
Formação Profissional
- Teorias da Administração
- Administração Mercadológica
- Administração da Produção
- Administração de Recursos Humanos
- Administração Financeira e Orçamentária
- Administração de Materiais e Patrimoniais
- Administração de Sistemas de Informação
- Organização Sistemas e Métodos
Total: 1.020 h/a (34%)
Disciplinas Eletivas e Complementares
Total: 960 h/a (32%)
Estágio Supervisionado
Total: 300 h/a (10%)

Como podemos observar, os conhecimentos transmitidos num curso de graduação em administração, cobrem todos os problemas que uma moderna empresa pode enfrentar no seu dia a dia e capacita seus egressos a resolvê-los.
Um profissional de outras áreas, um engenheiro ou advogado, por exemplo, por melhor que tenha feito o seu curso, jamais será capaz de desempenhar os mesmos papéis de um bom administrador dentro de uma organização, pelo simples fato de lhe faltar formação para isso.
Os homens, como todo o ser vivo, já nascem com uma boa capacidade para sobreviverem no meio que habitam. Todos são capazes de usar os recursos ao seu alcance para obterem o seu alimento, tratar algumas enfermidades, construírem seus abrigos, defenderem-se de seus agressores, enfim todas as tarefas que precisam saber executar, no mínimo satisfatoriamente, para não serem extintos como espécie.
A administração, que é bom senso aplicado, não foge a essa regra. Não precisamos ser formados em engenharia ( que durante todo o curso apresenta 1 ou 2 disciplinas de administração aos seus alunos ), para dizer que sabemos administrar. Todos estamos sempre administrando. Ninguém administra tanto quanto uma dona de casa, mas daí a afirmar que depois de anos de experiência ela se torna uma administradora é tão absurdo quanto dizer que um mestre de obras que constrói algumas casas, terá igual sucesso construindo um edifício. Um índio ou um caboclo, por melhor que conheça o poder curativo das plantas, jamais será um médico. Da mesma forma, por mais experiência que um engenheiro possa ter, ou fazer crer que tem, jamais saberá tudo que sabe um bom administrador formado. Poderá se dar bem em algumas decisões administrativas que tomou, mas isso não é fruto da sua formação, pois muitos empresários semi-analfabetos conseguem manter e prosperar suas empresas usando apenas o bom senso na sua gestão.
Insisto, a primeira condição para ser um ADMINISTRADOR é ser formado em administração. Experiência, domínio de instrumentos matemáticos e vontade de ser reconhecido como administrador são apenas, complementos a essa formação.

É verdade, muitas empresas preferem contratar engenheiros a administradores. Isso, antes de demonstrar a competência dos primeiros, reflete a hegemonia que exercem dentro das empresas e sua expressa preferência por seus pares, na indicação de novos funcionários.
Administradores - Hoje em dia é bastante comum, com a proliferação dos cursos de especialização e MBA's, a aproximação de profissionais de outras áreas ao ambiente da administração de empresas. O Sr. não acredita que, desta forma, esses profissionais possam desenvolver as competências essenciais de um administrador?
Prof. Weyrauch - É preciso que se entenda, de uma vez por todas, que os cursos lato sensu, chamados de MBA?s, especializações, etc., foram criados, nos anos 70, para proporcionar remuneração suplementar aos professores, aliviando as pressões sobre os orçamentos das universidades. Isso fica ainda mais claro quando verificamos que bem antes da procura, foi implementada a oferta desses “produtos” e a promessa de que atenderiam as necessidades do “mercado”.
Esta propaganda enganosa fez com que multidões de profissionais de áreas que estavam sendo desativadas, no país, pela globalização, procurassem emprego como administradores. Aproveitaram a oportunidade que estava sendo oferecida para “lavar” o seu diploma original e impingir a seus novos patrões um curso de pós-graduação em administração, pretensamente melhor e mais forte que uma simples graduação.
É impossível, que um curso de 360 horas, que é a duração de uma especialização, MBA, ou seja lá como for chamado, possa formar melhor do que uma graduação em administração que exige do aluno mais de 3.000 horas de disciplinas.
Existem ingênuos capazes de investir mil e tantos reais por mês nesses cursos, esperando saírem mais capazes do que os administradores formados. No entanto, a sua eventual absorção pelo mercado de trabalho só pode ser explicada ou pela ignorância do empresário ou pela proteção de seus pares, dentro das empresas, que participam do processo decisório da contratação desses “administradores”.
Administradores - Temos observado que os cursos de graduação em administração, de maneira geral, não têm evoluído a sua forma de ensinar no mesmo ritmo que os cursos de pós-graduação, como os MBA's. O que isso traz de conseqüência para o administrador?
Prof. Weyrauch - Os administradores que pretendem fazer carreira na administração, em geral, estão preparados para longos anos de ensino aprendizado. Disciplinas de formação básica e instrumental, de formação profissional, eletivas e complementares, monografias, trabalhos de fim de curso, estágios supervisionados, simulações e jogos de negócios, estudos de casos, são tarefas que mantém os alunos em total atividade. Estes conteúdos, na maioria das vezes, são transmitidos através de aulas expositivas, pesquisas orientadas e exercícios de fixação, o que nem sempre agrada a todos, embora sejam mais eficientes para vencer conteúdos tão longos.
Nos cursos de pós-graduação, a preocupação não é transmitir conhecimentos e sim preparar o pesquisador. Para isso pinçam-se tópicos do momento (modismos) mais exóticos ou herméticos e trabalham-se, os alunos, individualmente ou em grupos, na forma de seminários. Como a preocupação com a seqüência da matéria é secundária e a quantidade de alunos menor, pode-se usar tecnologias diversas em cada encontro, proporcionando uma dinâmica maior.
Administradores - O Senhor acredita que exista alguma forma de “proteger” a profissão do Administrador?
Prof. Weyrauch - Todas as profissões são protegidas, inclusive a engenharia, o direito, a economia e muitas outras que, por falta de mercado, exilam seus bacharéis para a administração. Muitos chegam somente com a sua formação básica em outra área e instalam-se confortavelmente no seio da profissão, como um pássaro guacho que por preguiça de construir seu próprio ninho ocupa o construído por outros.
Um segundo grupo é integrado por profissionais de outras áreas que utilizam os MBA´s, especializações, mestrados ou qualquer curso rápido, em administração, para “lavagem” de diploma. Com os certificados de conclusão desses cursinhos, chegam ao mercado de trabalho, proclamando-se administradores legais. Estes são encontrados, trabalhando como administradores em qualquer lugar, até mesmo, lecionando administração em todos os níveis dentro das principais universidades. Como se isso não bastasse, a maioria dos membros das Comissões de Especialistas da Área de Administração do MEC, CAPES, ANPAD, ANGRAD, etc. etc. é composta por profissionais de outras áreas.
Para proteger a administração do assalto desses intrusos, basta que se aplique a lei. Ela existe e é muito clara. Embora o órgão de direito que deve fiscalizar a profissão seja o Sistema CFA/CRA´s , isto não exclui o total dos administradores dessa luta.
Administradores - Tal protecionismo não seria prejudicial à própria dinâmica dos mercados?
Prof. Weyrauch - Está chegando a hora de abrir essas caixas pretas que se eternizam com suas pretensas verdades. A Revista Veja do início de abril publicou, pela primeira vez na historia do Provão, as medias das notas obtidas pelos alunos, dos dez melhores cursos, das 26 áreas em que é aplicado aquele exame.

A administração que sempre é vista com desconfiança pelo “mercado” porque teria em seus cursos, alunos preguiçosos, desinteressados e pouco inteligentes, ficou classificada em 4º lugar com 61,4 pontos, perdendo apenas para 1º) Fonoaudiologia com 67,8 pontos, 2º) Odontologia com 66,8 pontos e 3º) Engenharia Elétrica com 64,6. Os outros 22 cursos ficaram todos atrás da administração.
Precisamos, também, abrir essa outra caixa preta chamada mercado de trabalho e verificar como, realmente, são feitos os planejamentos de RH, o recrutamento, seleção, etc. dentro das empresas e poder verificar se na base dessa rejeição por administradores não estaria a intenção dos engenheiros, por exemplo, em indicar seus colegas de escola, agora desempregados.
É provável que esse mercado não seja tão dinâmico como se pretende e que a sociedade só tenha a ganhar se lhe acrescentarmos mais transparência e informação.
Administradores - O que deve ser feito para valorizar a imagem do administrador de empresas no mercado?
Prof. Weyrauch - O mês de abril de 2004, deverá ficar na história da administração brasileira por trazer a público dois fatos da maior importância para a imagem do administrador de empresas no mercado brasileiro.O primeiro foi a divulgação do quarto lugar obtido pela administração, entre os 26 cursos analisados pelo Provão. Essa classificação coloca os administradores no seu verdadeiro lugar, bem acima do que queriam seus detratores.
O segundo, divulgado em primeira mão no nosso portal – www.administradores.com.br , é a exigência do exame de suficiência para os futuros Administradores. Decisão do Sistema CFA/CRA durante a realização do Seminário Repensando a Profissão de Administrador, ocorrido em Brasília, nos dias 24,25 e 26 de março. Estas duas noticias já conseguiram levantar o moral dos administradores e deram-nos forças para continuar na longa luta que dentro de algum tempo conseguirá colocar a imagem dos administradores no lugar que merece.
Administradores - Para finalizar, o Senhor acredita que nossos órgãos representativos – o CFA e os CRA's - estão cumprindo o seu papel de maneira satisfatória?
Prof. Weyrauch - Sempre tive restrições a forma como os nossos órgãos representativos cuidavam de nossos interesses. Por outro lado, compreendo que precisamos deles, trabalhando para nós.
Ainda não conheço os detalhes que levaram o CFA/CRA?s a criarem o exame de suficiência para os futuros administradores - decisão que tanto vai beneficiar a administração - mas só o fato dela ter acontecido, já é o suficiente para conclamar todos os colegas a serrarem fileiras junto a esses órgãos em beneficio da nossa profissão.

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